sábado, 17 de novembro de 2012

Capítulo 1




          Acordei num sobressalto, quase afundando na banheira do meu apartamento novo. Agarrei a borda pra me erguer.  Pisquei e passei a toalha nos olhos. Parecia um sonho, mas eu realmente estava aqui. Relaxei novamente e relembrei tudo o que acontecera nos últimos seis meses na minha vida. Uma mudança radical.
        Após um casamento desastroso de dois anos, que acabou num flagra de uma traição e um divórcio desgastante, a melhor parte é que tive a minha vida de volta. Era hora de fazer por mim tudo o que eu sacrificara em nome de um falso amor. ILUSÃO. FALSIDADE. MENTIRA. Todas essas palavras eram capazes de sintetizar a vida que eu vivera nos últimos dois anos.
        Senti um calafrio e uma pontada no peito, que eu conhecia muito bem: o medo da solidão. Respirei fundo tentando afastar os fantasmas e me concentrar em tudo de bom que eu queria fazer por mim. Uma recaída a essa hora, era concordar com tudo o que não me satisfazia: sexo, amor, companhia. E Marcelo era sinônimo de toda essa insatisfação.
        O que o levou a me trair? O sexo ruim? Foram dois anos de dedicação a ele, a seu escritório de advocacia e as várias tentativas de apimentar nossa vida sexual. Tudo em vão. Ele simplesmente não me satisfazia e eu nunca havia tido um orgasmo.
        Eu sempre fui muito bem resolvida e em se tratando do meu prazer, nunca tive limites em experimentar novas abordagens, mas, por mais que tentássemos, era sempre frustrante: poucas preliminares e algumas estocadas. Às vezes eu até contava... 7,8,9 e foi... o quê? Como assim? Já? Ás vezes ele nem olhava pra mim, tamanha era a humilhação.
        Um problema que poderia ser meu ou dele. Essa dúvida ainda me roubava as noites de sono em meu quarto maravilhoso. No dia em que o flagrei mandando ver na secretária nova: uma loirinha baixinha de vinte e quatro anos, a mesma idade que eu, não sei se foi pelo flagrante ou se a cara que ela fez foi também de insatisfação... Balancei a cabeça mais uma vez... Enfim, era hora de levantar e me trocar. Era o primeiro dia na faculdade de Psicologia, o que eu sempre quis fazer e havia adiado para me dedicar a sua carreira.
        Escolhi uma calça jeans bem justa e uma blusa soltinha com detalhes dourados, escarpins bege, minha handbag vermelha Michael Kors da coleção nova,uma boa maquiagem e eu estava pronta. Sorri para mim diante do espelho. Gostei do que vi. É incrível como o dinheiro pode fazer alguns milagres na vida de uma mulher meio perturbada. Lembrei do meu carro novo: um Audi A5 preto. Demais. Mais um sorriso. É obrigada Tia Margareth.
 Margareth era uma tia-avó do meu pai, que havia morrido um mês após o meu divórcio, com então noventa e dois anos. Deixou uma herança de cinco milhões pra mim e um casarão que mais parecia um castelo mal assombrado. Lembro-me muito bem dela. Da última vez em que a vi eu tinha sete anos. Meu pai e eu tínhamos ido visitá-la. Lembro de suas unhas enormes trançando meu cabelo de um lado e do outro. Ela dizia enquanto trançava:
-Fui eu quem pediu a seu pai para botar-lhe o nome de Elise. Você tem os meus olhos azuis. Segure o seu olhar cruzado com o de qualquer homem e ele cairá aos seus pés. Elise você tem consciência do poder que traz dentro de você? Você é uma menina muito linda. Nunca permita que um homem a possua, estando você de regra. Isso a tornará ligada a ele para sempre. Lembre-se: sempre sozinha, sempre sozinha, sempre sozinha...
E me embalava em sua cadeira velha de balanço. Eu repetia junto com ela “sempre sozinha, sempre sozinha...” –isso mesmo meu bem! – dizia ela.
Na verdade eu morria de medo dela. Achava que ela era uma bruxa por causa das unhas enormes. Credo! Olhei pra minha sala do tamanho do meu antigo apartamento. Esse era um sonho e eu estava bem satisfeita por ter dado carta branca a decoradora. O resultado tinha sido incrível. Fui até a cozinha.
-O que vai querer comer senhora? – perguntou minha governanta.
-Não quero nada Teresa, eu vou comer alguma coisa na faculdade! Obrigada! Estou atrasada!
Desci até o estacionamento e entrei no Audi A5, coloquei meu Ipod e ao som de A-ha “Take on me” saí detonada. Aumentei mais ainda o volume assim que começou “All around the world”, Oasis. Nossa! Que trânsito! As pessoas dos carros ao lado olhavam pra mim por causa do som alto, daí eu percebi os vidros abaixados. Sinônimo de perigo com esse tipo de carro.
Virei a direita, rumo rua da faculdade e a esquerda dando a volta no contorno para entrar no estacionamento do prédio. Percebi que à frente havia uma espécie de blitz, bem em frente da faculdade. Ainda com Oasis, mal tinha começado "Stand by me" quando senti uma batida atrás no meu carro, bem em frente à blitz.
Os policiais sinalizaram, parei no acostamento, fula da vida. E saí do carro.
-Meu Deus como alguém pode ser tão desatento! – Foi então que vi o meliante. Uau! Que meliante! Que gato! Que gostoso! –Bem, não era pra você estar brava? – perguntou meu inconsciente.
Ele veio se desculpando com os policiais e explicou alguma coisa sobre a pressa de ir ao hospital, porque sua ex-mulher havia cortado os pulsos e mais alguma coisa que eu não lembro se ouvi, na verdade eu estava envolvida demais em admirá-lo que nem filtrei o que ele dizia. Que lindo! Com cara de preocupado, muito preocupado, mas muito lindo! Alto, forte, másculo, com cara de homem, daqueles que você precisa ficar na ponta dos pés pra abraçá-lo pelo pescoço. Adoro homem assim. Dominador. Decidido. Seguro de si. Detesto homem frágil, com cara de gay. Esses, só pra amigos. Só então ele se virou e se desculpou comigo! Quando nossos olhos cruzaram, não sei o que me deu, mas eu não pude segurar o olhar e desviei, abaixando-o meio envergonhada. Que merda é essa agora? Eu nunca fui assim... Ele entregou um papel com o nome e o telefone aos policiais e disse que ia cuidar de todo o prejuízo, mas que precisava ir. E saiu. Ele conhecia um dos policiais que o liberou e me chamou pra conversar. Ah!
-Olá! Eu sou o Sgt. Drill e quero saber se você vai fazer uma ocorrência formal? Eu conheço o Dr. Mauro e sei que ele vai arcar com todo o prejuízo.
-E é assim que funciona? –perguntei atrevida.
-Não, mas nós podemos dar a complicação do tamanho que quisermos a esse tipo de ocorrência. Vejamos o seu carro: amassou um pouco. Não foi muita coisa! Deve levar um dia na autorizada e pela marca do carro, com certeza, ela deverá liberar outro pra você estou certo?
-Sim!- respondi secamente.
-Então o que prefere?
-Tudo bem! O que eu faço?
-Aqui está o nome e o telefone do Dr. Mauro. Você só tem que agendar o serviço e ligar pra ele comparecer lá e assinar a ordem de serviço.
-O senhor parece bem perito nesses casos!
-Todos os dias estamos lidando com esse tipo de coisa: a pressa, uma preocupação, uma distração e aí alguém com a cabeça mais quente... tem haver alguém para contornar a situação. Aqui está Sra., Srta. – olhou pras minhas mãos, depois pra minha carteira de motorista – Srta. Elise Campello- e me estendeu o papel. – Belo nome!
-Obrigada! – agradeci, dessa vez com a cara de chateada. Entrei no carro e fui pra faculdade. Olhei pro papel:

Dr. Mauro
93721555





Olhei o relógio: 8:30 – Merda! Que atrasada!- conferi meu horário e segui direto pro elevador, sala 307, terceiro andar. Bati à porta, pedi licença e perguntei ao professor se podia entrar.
-Você está matriculada nesta disciplina? – perguntou ele.
-Sim! – confirmei.
-Então a senhorita deve saber a hora que essa aula começa.
-Precisa mesmo disso professor? – desafiei-o.
-A menos que tenha uma desculpa plausível, não poderá assistir a essa aula.
-Eu tenho! – rebati.
-Pago pra ver! – ele rebateu.
“Eu mereço, pensei”. A essa altura do campeonato a sala lotada aguardava o desfecho da história. Respirei envergonhada e comecei.
-Eu me atrasei porque bateram no meu carro, quando estava a caminho daqui. Ocorreu bem aí em frente!
-Ah! Uma batida! Nada criativo senhorita! Posso te dar outra chance! – nisso ele virou a cabeça de lado e abriu um meio sorriso meio maroto, muito charmoso. O quê? Ele estava flertando? Vou entrar nessa, pensei.
-Bem, o meu carro está lá no estacionamento e acredito que os policiais ainda estejam lá embaixo. Quer conferir se eu estou mentindo? - pisquei duas vezes pra ele.
Ele alinhou os lábios, meio contrariado e disse:
-Sente-se.
Virei-me, dando as costas a ele e encaminhando-me para a turma, revirei os olhos e a sala toda riu. Ri também. Como quase todos os lugares estavam ocupados, fiquei parada na frente procurando um, foi quando ouvi um psiu!
-Vem cá, tem um lugar aqui!
-Ah! Obrigada! Oi, eu sou Elise.
-Oi! Gilian.
Nisso meu celular tocou bem alto “one, two three” da Britney Spears.
-Porra! – olhei pro professor e gesticulei as palavras “Foi mal”. Desliguei-o.
-Assim que a senhorita atrasadinha permitir, posso continuar a minha aula? - disse ele.
-Por favor e desculpe mais uma vez! –respondi.
Virei-me pra Gilian e perguntei baixinho:
-Qual é a dele?
-É o Dr. Stanton. Walter Stanton, brasileiro, mas filho de americanos, doutor em Psicologia pela Universidade da Califórnia. Um gato, mas muito mal-humorado. Acho que ele estava flertando com você!
-Também achei! – rimos.
Ficamos bem amigos e todos os trabalhos e seminários fazíamos juntos. Gilian completava meu lado gay e ríamos juntos de tudo. Foi um verdadeiro casamento espiritual. Íamos as baladas, dançávamos, bebíamos e eu até passara a frequentar sua casa e ele a minha. Gilian resgatava esse meu lado descontraído, despojado e vívido de liberdade. Numa dessas baladas, ele criou coragem e me apresentou ao seu namorado, um moreno alto e de olhos verdes. Martin. Quando ele se afastou, Gilian disse:
-Pensei que você fosse ficar chocada?
-Por você ser gay?
-É! Não esperava que você fosse tão legal e deixou Martin bem à vontade.
-Meu bem eu to é com inveja desse gostoso que você achou. Rimos juntos.
-Estamos juntos há oito meses! Ele é um sonho. Carinhoso, sempre tão preocupado comigo. Só que é casado!
-Nossa! Que furada, Gilian!
-Pois é!
Percebi sua tristeza e tratei de puxá-lo pra pista de dança. Estava tocando Lady marmelade, mixado com uma batida techno. Voltamos pra mesa, as meninas já tinham voltado e todos estávamos rindo. Gilian estava ansioso percorrendo os olhos pela boate. Talvez procurando por Martin.
-É acho que o senhor “dono de casa” já foi. Meus planos pra um sexo selvagem já eram! Rimos.
Como eu estava na ponta da mesa, senti alguém se aproximando por trás. Era um garçom, lindo de morrer, com uma bebida na bandeja. Ele cochichou bem no meu ouvido.
-Com licença senhorita, aquele senhor ali – apontou pro outro lado da área vip. Lá estava o cara mais lindo que já vi. Parece que havia pulado de um anúncio de TV direto pra aquela mesa. – É o senhor Antony Hill. Ele é de Manhatan e está encantado com a senhorita – olhei pra ele, que me cumprimentou levantando seu copo. Sorri. Que sexy! E o garçom continuou:
-Pelos seus acompanhantes! É! – ele engasgou depois limpou a garganta e continuou – Não se ofenda, mas ele quer saber se a senhorita é mulher! – disse quase sem respirar.
Isso tudo porque eu estava acompanhada de Gilian e duas amigas dele que eram travestis. Não consegui conter a gargalhada que dei, balançando meu cabelo quando joguei a cabeça pra trás.
-Ora! Por que ele não vem conferir!
Eu devolvi a bebida a sua bandeja e o garçom se afastou, dirigindo-se a ele. Falou alguma coisa em seu ouvido. Antony pegou o copo e dirigiu-se a nossa mesa. Nossa! Meu coração disparou. Que andar mais sexy! Que meio-sorriso de foder com os sentidos de qualquer mulher! Sem tirar um minuto os olhos de mim, ele vinha em minha direção, como um felino em busca da caça. Rapidinho coloquei Gilian a par da situação. Que também aguardou ansioso a sua aproximação.
-Hi!
-Hi! – afastei-me pra ele sentar do meu lado.
-Your drink!
-Thanks. – senti sua mão na minha coxa, subindo, subindo e depois descendo pro vão entre elas, até tocar-me ali. Olhei pra ele, com os olhos de surpresa. Ele continuava com aquele meio-sorriso. Respirei fundo e quando ele alcançou seu objetivo, eu afastei um pouco mais as pernas. Gilian observava tudo estupefado. Viramos nossas bebidas de uma só vez.
-What do you doing? – perguntei.
-Conferring.
-And? Do you find what do you want? – falei ofegante.
-Something much special.
As meninas não percebram nada. Ele puxou a mão e eu movi as pernas prendendo-a. Não sei o que deu em mim. Ele sorriu e disse;
-Do you like it?
-Very much! – respondi e abri as pernas da forma mais sexy que uma mulher possa ter feito sem desviar um minuto os meus olhos dos deles. Ele continuou me massageando, meio indeciso se parava ou se continuava.
Percebendo a situação, Gilian tratou de levar as meninas para a pista. Antony tirou a mão e disse que eu tinha o cheiro e o gosto maravilhosos. Em nenhum momento descruzamos nossos olhares. Aquilo que ele falou foi tão, tão medieval que me deixou excitada ainda mais. Pela primeira vez desejei ter um homem dentro de mim. Uma vontade louca de foder tomou conta dos meus sentidos. A mesa em que estávamos era de canto, o que nos dava toda uma privacidade, mas eu não estava nem aí.
Ele agarrou minha nuca com uma das mãos, posicionando minha boca do jeito que ele queria e abocanhou-a num beijo selvagem. Era um dominador nato. Sua língua passeava dentro dela até encontrar com a minha e as duas começaram uma luta frenética. Ele chupava minha língua de um jeito que ninguém fez. Deixei escapar um gemido. Sua outra mão desceu até o meu sexo. Ele empurrou a calcinha e entrou com um dedo em mim. Coloquei uma perna em cima da sua pra facilitar o acesso. Ele já estava com dois me massageando e o seu polegar circundando meu clitóris, enquanto seus dedos entravam e saiam. Eu estava toda molhadinha, totalmente entregue. Não sei se foi pelas bebidas, mas havia uma ânsia em sentir aquelas sensações pela primeira vez. Era tão bom. Tateei seu membro por cima da calça. Uau! Era enorme e ele estava tão excitado quanto eu. Agarrei-o. Ele parou de chupar minha língua, sorriu, mordeu meu lábio inferior e disse:
-You’re hot!
-Don’t stop, please.
Ele continuou movimentando seus dedos, enquanto falava ao meu ouvido, o quanto eu era linda, apertadinha, que queria me chupar inteira e fazer-me gozar em sua boca. Que eu tinha o cheiro de sexo. Ele enfiava cada vez mais rápido, bem profundo me tocando num pontinho enlouquecedor. Senti uma espécie de cólica e comecei a me contorcer. Meu sexo ficou rígido e começou a latejar em seus dedos, apertando-os.
-Waw! – ele sussurrou em meu ouvido. Eu não sei quantos dedos estavam lá dentro, só sei que fechei os olhos e perdi os sentidos. Abra os olhos! Olhe para mim! Quero ver você! Ele sussurrava em meu ouvido! Gemi e uma onda de sensações invadiu meu ventre, um místico de dor e prazer, seguido de um relaxamento de todas as minhas células. Não consegui ver seu rosto, embora eu estivesse com os olhos abertos. Gemi alto e ele abafou com um beijo. Fui alto a alguma montanha e pulei de bung jump, sem amarras. Uau! Isso é gozar? Ri freneticamente pra ele, que sorriu surpreso pra mim.
-Come on! I want fuck you now! – e me puxou pela mão boate a fora.

5 comentários:

  1. Muito interessante e totalmente instigante...Parabéns!bjosss.

    Paula Amanda.

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  2. Ladyjane não li tudo mas vou ler, o que li achei muito interessante. Onde muitas pessoas vão se interessar vão se ali e tambem saberão reverter aquele momento. Adorei!!!! PARABENS AMIGA.

    HALLEN!!

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  3. quantas criatividade e sensualidade nessas linhas ariscas do prazer... um texto gostoso de se ler! Você está de parabéns amiga, precisamos de muitas pessoas habilitadas assim como você... Vá em frente e publique logo, porque eu estou curiosa para saber o desfecho dessa história.

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  4. Muito bom adorei!!!
    Sem contar puxa vc pro proximo capitulo...

    Parabéns!!

    Raquel.

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