domingo, 16 de dezembro de 2012

Capítulo 9 -atualizado



9
        Almocei sozinha naquele dia e aproveitei pra conversar um pouco com Jasmine.
        -Jasmine, o que você acha se eu fizer uma visita rápida ao Antony na empresa? Você acha que ele vai ficar zangado?
        -Acho que não! Por que você não liga antes?
        -Quero fazer uma surpresa!
        -Ah!
        -Prepare um jantar romântico pra gente Jasmine, por favor!
        -Ok!
        Jasmine estava a pia e eu sentada em um dos bancos, de frente pra ela.
        -Eh!... Antony costuma trazer muitas garotas aqui?
        Ela demorou um pouco, como se estivesse escolhendo as palavras e virou-se pra mim.
        -Algumas!
        -Brasileiras?
        -Também...
        -E elas ficam hospedadas aqui? – desviei meu olhar e mordi meu sanduíche.
        -Sim, senhorita. Eu acho que a senhorita deveria perguntar essas coisas a ele. Sabe meu bem... Não sei se ele vai gostar dessa conversa que estamos tendo... Entende?
        -Sim, claro. –fiquei envergonhada. –Desculpe Jasmine. Não quero causar-lhe nenhum problema. E não se preocupe, eu sei ser discreta. Só mais uma pergunta! O que tem lá em cima?
        -Ele ainda não te levou lá? –olhou-me surpresa.
        -Não. Só conheço aqui em baixo.
        -Eh! Ele realmente é uma caixinha de surpresa. –encarou-me como se eu fosse uma coisa estranha.
        -Por que tá falando isso? E olhando-me assim?
        -Desculpe. Só estou surpresa.
        -Por quê?
        -Escute meu bem, quer um conselho? Só suba lá se ele a convidar. Ok?
        -Certo. –o que me deixou ainda mais curiosa.
        Após o almoço troquei de roupa e resolvi fazer umas comprinhas e é claro uma visitinha a ele, mas, antes de sair, resolvi mandar uma mensagem, acompanhada de um link de uma música pra ele do escritório:

“Quando você liga pra mim, é essa música que toca em meu celular...”
        A música era “No Ordinary Love” da Sade. Eu sabia que ele a adorava, por isso escolhi essa música como toque da sua chamada. Como também achei que tinha tudo a ver, sem contar que era a minha preferida.
        Mensagem dele:
“Tá querendo me dizer alguma coisa?”
“Eu estou sempre querendo mais... quero fazer amor hoje ao som dessa música...”
“Honey! Fazer amor é fichinha perto do que eu vou fazer com você ao som dessa música...”
Ah! Minha nossa! Senti uma contração... Como ele consegue fazer isso comigo... Está tão longe de mim, mas é como se estivesse falando ao meu ouvido. Ele simplesmente consegue fazer vibrar todas as células do meu corpo com uma simples frase...
“ ;)   Vem aqui!”
“Pare de incomodar-me Elise! Nem sei mais o que o cara tá falando aqui...blá,blá,blá...  ;)”
“Sim senhor! Bj!
“;)”

**********

        Quando apareci na cozinha pra visar a Jasmine onde ia e perguntar por Mathew ela olhou-me de cima a baixo.
        -Uau! Você vai sair assim?
        -Assim como? –olhei pra minha roupa. Estava com short curto e uma regata soltinha escrita “SEXY TOO MUCH” e saltos altíssimos.
        -Desculpe, eu não me acostumo com a forma como vocês brasileiras vestem-se. Sempre tão sexy. O Senhor Hill vai ter um infarto. –rimos. Ah!
        Mathew apareceu enfim.
        -Senhorita tenho ordens para acompanhá-la em suas compras! –disse Mathew. Essa não! Não pro tipo de compra que eu quero fazer.
        -Olhe, Mathew, prefiro combinar um lugar para encontrar-nos. Não vou me sentir a vontade comprando lingeries com você ao lado.
        -Certo senhorita! –disse meio constrangido. Legal, funcionou!     
        Aproveitei o momento sozinha e fui a uma sexshop. Lá encontrei um kit básico para iniciantes: um caixa comprida de veludo preto, contendo uma máscara de cetim, um par de algemas e um chicote de couro bem macio com pompons de veludo em cada ponta de suas três tiras. Achei uma graça. Kit iniciantes? Uau! Cada vez, eu estava mais curiosa com esse mundo da dominação e submissão. Meu inconsciente repreendia-me, mas quer saber, eu não estava nem aí... Queria mesmo era saber o que o Antony era capaz de fazer com esse kit. Nossa! Só em pensar meu corpo todo vibrava de ansiedade... Queria dar esse presente a nós dois. Queria entrar em seu mundo, mas do meu jeito. De um jeito só nosso: particular e exótico.
        A primeira parte da surpresa estava pronta. O jantar a cargo da Jasmine, só estava faltando achar algo bem sexy pra mim. Na Victoria’s Secrets escolhi uma lingerie preta com pele, com cinta liga e tudo o que o Antony tivesse direito. Tudo o que desse muito trabalho de ser retirado. Queria só ver a cara de ansiedade dele, mas com certeza, conhecendo-o como eu acho que conheço, ele iria tratar de arranjar um jeito de me deixar em maus lençóis. Ah o kit era acompanhado de umas bolinhas esquisitas e bem cheirosinhas...

***************

        Cheguei ao The Trump Building onde funcionava a empresa AH Financial Empire por volta das 17h. Fui até a recepção para pedir alguma informação. A atendente olhou-me curiosa quando disse que estava lá para falar com Antony Hill. Ela também perguntou se eu havia marcado um horário! Imagine! Claro que eu precisava ter marcado um horário!  Bem, era só uma visita... Acho que era melhor eu ir embora. Ela ligou e falou com alguém que certamente mandou descartar-me. Ela lançou-me um olhar de pena, após dizer que o “Senhor Hill estava em reunião e não poderia receber ninguém”. Ok! Meu bem! Queria dizer-lhe pra conter seu esnobismo, porque com certeza quem iria ganhar o prêmio da noite seria EU, mas contive-me. Oh Deus! Hoje eu queria implorar pra valer... Por mais ... Muito mais... Assenti e virei-me para encaminhar-me a saída, quando deparei-me com o Bernard.
“O que essa idiota está fazendo aqui?”
        -Olá, Senhorita Campelo!
        -Oi Bernard!
        -Veio ver o Antony? –perguntou encarando-me.
        -Sim, mas parece que ele está meio ocupado. –dei graças a atendente está ouvindo toda a conversa.
        -É verdade. Antony está em reunião com o pessoal da administração. Quer que eu avise que você está aqui? –“Seja sensata e dê o fora daqui.”
        -Não, obrigada. Só estava passando e resolvi fazer uma surpresa. É melhor eu ir. Não quero incomodá-lo.
        -Quer tomar um drink? Tem um lugar ótimo aqui perto. –O quê? Ele está me chamando pra sair?
        -Obrigada, mas eu tenho umas coisas pra resolver hoje à noite. Quero fazer uma surpresa pra ele.
        -Ok! –“Quer dizer que a senhorita tem planos é? Ah, mas eu vou estragá-los.”
        -Até Bernard!
        -Senhorita Campelo!
        Nossa, que olhar mais penetrante! Chega a ser perturbador! Esse homem me dá arrepios.

**************

“É melhor ficar e tratar de arrastar aquele babaca até uma boate, embebedá-lo e dar-lhe seu melhor presente: mulheres, muitas mulheres.” BERNARD
        Após a reunião com a administração, Antony engatou outra com uns investidores para um negócio milionário. Esta última terminou por volta das 20:30 e todos comemoraram a nova sociedade.
        -Temos que comemorar esse acordo! Senhor Hill! –disse Bernard a todos os presentes.
        -Sim, Bernard! Vamos marcar um dia... –Antony sabia que eu estava esperando.
        -E por que não hoje? –perguntou um dos investidores. –Tem algum lugar em mente Bernard?
        -A Scape! –Antony fuzilou-o com os olhos. –Não conheço lugar melhor que ofereça boa bebida e lindas mulheres!
        -Excelente! –disse o banqueiro.
        -Vamos então!
        -Preciso dar um telefonema! –insistiu Antony.
        -Deixe pra depois Antony! Vamos comemorar! –insistiu Bernard.
        -É. Deixa pra lá! –assentiu Antony.

************

        -Senhorita, ele não ligou? –perguntou Jasmine.
        -Não Jasmine! E por favor me chame de Elise.
        -E você não vai ligar?
        -Pela milésima vez? –acho melhor ir deitar. Ele não vem mesmo e já é meia-noite e meia.
        -Eu sinto muito, Elise!
        -Está tudo bem Jasmine. É melhor deitar-nos. Boa noite.
        -Boa noite.

        Enquanto isso na Scape...
        -Veja Antony! Presentinhos pra você! –gritou Bernard, pois o barulho que fazia dentro da boate era ensurdecedor.
        -Ora, ora, ora... –Antony estava muito bêbado.
        -Bem ao estilo Hill, hein? Loira, olhos azuis... E o que me diz de, ao invés de uma, serem duas... –disse Bernard.
        -Uau! –ele já estava entusiasmado.
        -Gêmeas russas...

*********

        Rolo pra um lado, pro outro. Olho o relógio 01:15. Nossa! Ele não apareceu. Devo ligar novamente? Melhor não. Onde está meu celular? Acho que esqueci na sala... onde? Ah! Aqui está! Tem alguém chegando... sons de risadas... homens e mulheres...
        Ao abrir a porta que dá acesso ao hall e ao elevador, o que vejo paralisa-me... Bernard agarrado com uma asiática e...e...o Antony com duas loiras, a gravata desamarrada, os botões da camisa abertos até a altura do umbigo... ele está beijando uma, enquanto a outra apalpa sua ereção. Ah! Meu Deus! Que pesadelo! Pisco várias vezes porque não quero acreditar no que vejo. Estou paralisada... Bernard é o primeiro a notar minha presença e tosse para Antony, que está absorto com suas barbies... Bernard tosse mais uma vez... Antony olha pra ele, e depois pra porta e me vê... ele ri pra mim... se desvencilha das garotas e encaminha-se até mim... eu não consigo mover-me, falar nem mesmo respirar... fica a uns três metros e diz...
        -Contemplem-na. Esta é Elise... a mulher mais linda e mais exótica que eu já vi na minha vida... –Quê?
        Entro e bato a porta. Ele vem atrás de mim. Entro rapidamente no quarto dele e fecho a porta.
        -Elise, abra a porta! Vamos! Abra! Eu sinto muito!
        Joguei a mala em cima da cama e comecei a colocar minhas roupas de volta. Tenho que sair dali. Estou com medo do que estou sentindo... Preciso fugir... Meu peito dói... Não consigo engolir, porque um bolo formou-se em minha garganta e eu sinto como se meu pescoço estivesse inchado pressionando a passagem do ar e eu não consigo respirar... Choro. Lágrimas descem incontroláveis... Como ele pôde? Lembro do dia em flagrei o Marcelo... Não o amava mais... e mesmo assim... foi muito triste... mas o Antony? Por que estava sentindo-me assim? Eu estava diferente. Antony havia me mudado. Ele curou meu corpo, meu coração e devolveu a esperança de acreditar novamente em um relacionamento. Ele apareceu na minha vida, quando havia decidido me divertir, sem entregar-me, tentando pensar como os homens pensam: sem muita entrega, sem cobrança, só diversão... Mas, afinal que chances eu teria? Eu fui uma boba em pensar que conseguiria... Talvez eu pudesse tentar uma nova abordagem, uma espécie de “proximidade sem intimidade”. Deitei e apaguei.
        No dia seguinte, levantei muito cedo, tomei um banho rápido e peguei a mala.
        Antes de chegar a cozinha, ao passar pela sala, vi-o dormindo no sofá. Estava sem camisa, sem gravata, mas ainda estava com a calça e os sapatos, totalmente apagado, completamente bêbado.
        -Bom dia Jasmine, onde está Mathew?
        -Bom dia! –disse Mathew ao entrar na cozinha.
        -Bom dia! Você pode levar-me ao aeroporto?
        -Sim, senhorita. Não acha que é um pouco cedo?
        -Quero voltar pro Brasil o mais rápido possível.
        -Sim, Claro.
        -Tome seu café. Estou no escritório fazendo umas ligações.

***********

        Por pura sorte consegui um vôo que sairia dali a uma hora. Mathew ficou o tempo todo comigo.
        -Mathew não é necessário você ficar aqui. Pode ir. E obrigada por tudo.
        -Sim, senhorita, mas receio que o Senhor Hill iria querer que eu ficasse aqui até a senhorita decolar.
        Nisso o telefone dele tocou.
        -Com licença senhorita! –e afastou-se par atender. Deve ser o Antony. Aproveito e vou tomar um café.
        Enquanto tomo o meu café, observo o Mathew conversando ainda ao celular. É melhor preparar-me, talvez ele atreva-se a vir aqui... Meia-hora depois, avisto-o vindo em minha direção. Já tomado banho e com roupas limpas: calça jeans e camisa branca. Mathew cumprimenta-o e afasta-se.
        -Oi! –Não respondo. Olho pra minha xícara vazia. –Dois cafés, por favor! –ele pede.
        Isso é novidade pra mim, mas quando estou chateada com ele, simplesmente não consigo olhá-lo nos olhos. Novamente minha garganta incha e sinto meus olhos lacrimejar, mas como estou olhando pra baixo, acho que ele não percebeu isso, a não ser minha tristeza revelada no meu silêncio.
        -Elise, eu sinto muito. De verdade.
        -Será que sente? –ainda olhando pra baixo.
        -Não quero vê-la triste assim!
        -Não se preocupe tanto!
        -Eu não sei no que estava pensando, mas acho que estava com medo... acabou que isso ficou muito sério. E...
        -Me trouxe até aqui pra perceber isso?
        -Não. É que preciso de um tempo pra encontrar-me. Eu estou um turbilhão de sentimentos e isso está me assustando demais.
        -Eu não perco um minuto da minha vida “dando tempo”. O tempo pode tanto estar a nosso favor, como contra. E eu não vou estar aqui quando você se encontrar.
        -Não?
        -Não.

                -Então...
            -É engraçado! Você quer se encontrar longe de mim e eu só quero me perder em você... parece que está havendo uma contrariedade aqui! –sorrio nervosa.
            Ele olhou-me surpreso. Não respondeu como se processasse lentamente o que eu dizia. Uma vez ou outra, passava as mãos pelos cabelos, como se estivesse travando uma luta interna. Ah! Meu amante perfeito! O que teria acontecido? O que o fez mudar de idéia?
“Attention passengers! Flight number 681 to Rio de Janeiro, go to gate 6, please!”(Atenção passageiros! Vôo número 681 para o Rio de Janeiro, vão para o portão 6!)
            -É o meu vôo! –senti um arrepio na coluna. Manhattan começava a esfriar, não tanto quanto meu coração! Olho em seus olhos! Sinto que vou desmanchar. Ah não! Você está indo tão bem! Continue assim! Meu inconsciente manda-me essas mensagens. Seu desespero é visível, mas ele não fala e não se move, só me olha.
            Finalmente levanto-me, visto meu casaco e pego minha bolsa. Ele se levanta e fica em frente a mim. Merda! Merda! Merda! É uma despedida! Eu nunca me despedi de alguém desse jeito. Ele continua travado. Será que é a primeira vez pra ele também? Quero jogar-me em seus braços e acalmar seu coração, meu coração e dizer que tudo vai ficar bem. Nós só precisamos um do outro e é nessa hora, justo nessa hora que eu percebo o quanto estou apaixonada por ele.
            -Então... Tenho que ir. Se cuida Antony! Adeus!
            Ele não responde! Passo por ele e encaminho-me ao portão 6... “Covarde”. Como ele pode me ver partindo assim e não fazer nada? Não está lutando por mim... Também não estou lutando por ele... Não posso ser essa pessoa que ele quer... Será que ele não percebia que estava estragando muita coisa. Pelo menos, a forma como eu o via seria abalada: não estava mais diante do homem forte e seguro... Talvez ele precisasse desse tempo pra se encontrar, mas a verdade é que eu estava profundamente magoada e decepcionada e tinha medo do quanto eu poderia mudar com tudo isso. Principalmente em relação a ele.



        

3 comentários: